Milton Nascimento

Foto Bruno Veiga
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Dia vinte e seis de outubro de 1942, seis horas da tarde, a hora do ângelus. Na rádio toca a Ave Maria e nos corredores da Casa de Saúde de Laranjeiras um choro divide o silêncio com a melodia. É um bebê que acaba de nascer, seu nome: Milton do Nascimento...

Milton Nascimento passou os dois primeiros anos da sua vida num sobrado na rua Conde de Bonfim, na Tijuca, Rio de Janeiro, onde sua mãe, Maria do Carmo do Nascimento, trabalhava como doméstica. Desde o primeiro dia em que chegou ali, recém-nascido, tornou-se membro da família Pitta Silva, apadrinhado pelos donos da casa, Edgard e Augusta, e criado sob os cuidados e o carinho das filhas do casal, Lília e Dulce, principalmente Lília. Era ela quem passava a maior parte do tempo na companhia do menino e que lhe deu o apelido de Bituca, em uma referência aos bicos que fazia ao ser contrariado. Foi nesses primeiros anos, cercado pelo amor da mãe e das pessoas da família, que Milton começou a mostrar seu entrosamento com a música, ao descobrir o piano antes mesmo de completar um ano. Bastava Lília iniciar seus estudos no instrumento e o pequeno engatinhava até ela, ficava de pé, apoiando-se no banquinho, e balançava o corpo no ritmo da melodia. Ela então o colocava sobre o colo para que ele pudesse se divertir, brincando com as teclas brancas e pretas do instrumento.

Em 1945, com pouco mais de dois anos de idade, a vida de Milton vira de ponta cabeça. Sua mãe morre em decorrência de uma tuberculose e ele vai morar com a avó materna na cidade mineira de Juiz de Fora. É a primeira vez que se vê longe do sobrado da Conde de Bonfim e, apesar do carinho da avó biológica, não consegue se adaptar ao novo lar. A sensação é de tristeza, e banzo. Com saudades da antiga família, passa parte do dia sentado na calçada, na esperança de que alguém vá buscá-lo. Lília, que havia se casado e mudado para Três Pontas, ao sul de Minas Gerais, sente que algo não vai bem com Milton. Conversa com o marido Josino e os pais Augusta e Edgard. O jovem casal vai então a Juiz de Fora pedir à avó do garoto que o deixe morar com eles. Assim a nova família segue o caminho de volta para a pequena cidade de Minas Gerais.

Apesar de enfrentar o preconceito por ser um negro criado por uma família de brancos, Milton tem uma infância feliz no interior mineiro, rodeado por amigos, e pela música. Se antes sua vocação musical se revelava apenas nas brincadeiras com o piano, em Três Pontas passa a ocupar a maior parte do seu tempo. Aos cinco anos ganha uma gaita dos pais e, pouco depois, uma sanfona de quatro baixos. Sua diversão preferida é sentar-se na escada da varanda da casa e tocar a sanfona e a gaita ao mesmo tempo, com ajuda dos joelhos para segurar a gaita. Como os instrumentos possuem poucos recursos, completa as notas ausentes com a voz. Da varanda passa para os palcos das quermesses, acompanhando a mãe Lília. E é ainda na varanda onde ensaia os primeiros passos como compositor, criando histórias musicais que divertem os amigos e vizinhos. Um deles, Wagner Tiso, esconde-se na serraria em frente à casa de Milton para ouvi-lo tocar. Mas é só na adolescência que os dois se tornam amigos e montam o grupo vocal “Luar de Prata”, justamente quando Milton ganha seu primeiro violão. Na verdade, o instrumento havia sido um presente de sua avó e madrinha Augusta para a filha Lília. Entretanto, é ele quem recebe a encomenda e a leva direto para o quarto. Empolgado ao vê-lo tocar e dono de uma oficina elétrica, Josino eletrifica o violão do filho.

O “Luar de Prata” apresenta-se em bailes da cidade e região, e faz uma participação na Rádio Clube Três Pontas, cantando sucessos dos The Platters, boleros, música americana e tchá tchá tchá. O grupo evolui para “Milton Nascimento e Seu Conjunto” e no início da década de sessenta Milton e Wagner montam com outros amigos o “W’s Boys”, em Alfenas. Em razão da banda Milton muda seu nome artístico para Wilton. Fazem tanto sucesso que os dois são convidados a integrar o “Conjunto Holliday”, liderado por Rogério Lacerda, em Belo Horizonte. Em 1963, ao terminar o curso de comércio, iniciado após o ginasial, o carioca então definitivamente mineiro muda-se para Belo Horizonte e instala-se em uma pensão do Edifício Levy, onde conhece a família Borges. Além do “Holliday”, integra o conjunto de bailes “Célio Balona”. O que ganha como músico, entretanto, não é suficiente para se manter, por isso trabalha durante o dia como datilógrafo em um escritório das Centrais Elétricas de Furnas.

Em 1964 monta com Wagner Tiso e Paulinho Braga o “Berimbau Trio”, no qual estréia como contrabaixista. No intervalo de uma das apresentações do grupo faz amizade com Márcio Borges, que o incentiva a compor. Milton resiste e só depois de assistir a três sessões seguidas do filme “Jules et Jim”, de François Truffaut, compõe suas três primeiras músicas, parcerias com Márcio: “Crença”, “Novena” e “Gira Girou”. Ainda nesse período grava o compacto “Barulho de Trem”, com o Holliday, e o elepê “Quarteto Sambacana”, com Pacífico Mascarenhas. Em 1966 participa do Festival Berimbau de Ouro, em São Paulo, defendendo “Cidade Vazia”, de Baden Powell e Lula Freire. Fica em quarto lugar e decide se transferir para a cidade. No mesmo ano, Elis Regina grava “Canção do Sal”. Apesar de começar a ser reconhecido pelo meio musical, Milton passa muitas dificuldades em São Paulo. Para tentar animá-lo, os irmãos Adilson e Amílton Godoy, de quem havia se tornado amigo, levam-no a um centro espírita no dia da festa de São Cosme e Damião. Lá, Milton é avisado por uma entidade que sua vida passará por uma reviravolta em pouco tempo.

No entanto, ele não está disposto a buscar nos festivais o trampolim para a reviravolta anunciada. Decepcionado com o clima competitivo dos eventos, decide nunca mais participar de um, mas em 1967 conhece Agostinho dos Santos durante uma de suas apresentações em um bar da capital paulista. Agostinho, a pretexto de gravar em seu próprio disco, pede ao novo amigo uma fita com três músicas e as inscreve no Festival Internacional da Canção. As três são classificadas, Milton é eleito melhor intérprete e uma delas, “Travessia”, fica em segundo lugar, tornando-se uma das músicas mais conhecidas e gravadas de Milton, no Brasil e no exterior. A partir de então, a carreira de Milton Nascimento deslancha. O mineiro que havia subido ao palco do FIC como um estreante com o mérito de ter classificado três músicas sai como um nome de peso da música brasileira, com contratos para gravar no Brasil e nos Estados Unidos.

Os primeiros discos reafirmam-no como compositor inovador e intérprete excepcional. Com o terceiro elepê, “Milton”, em 1970, suas músicas têm uma guinada pop/rock com a entrada do grupo “Som Imaginário”, que o acompanha com guitarras elétricas e teclados. Dois anos depois o trabalho, sempre em conjunto com os parceiros e amigos, com Lô Borges principalmente, culmina no álbum duplo “Clube da Esquina”, que acaba por batizar um dos maiores e mais importantes movimentos da Música Popular Brasileira. Nos anos seguintes o “clube” se expande e surgem novos membros, de velhos amigos a estrelas internacionais, como Wayne Shorter, Herbie Hancock, James Taylor, Jon Anderson, Naná Vasconcelos, Ron Carter, Peter Gabriel, Pat Metheny, Gil Goldstein, Jack Dejohnette, Mercedes Soza, Fito Paez, Hubert Law, Sting, Paul Simon e Duran,Duran. Maurice White, do grupo “Earth, Wind and Fire” declarou que tanto as músicas quanto o conjunto foram inspirados nos falsetes de Milton Nascimento.

Em quase quatro décadas de carreira desde o FIC e “Travessia” Milton Nascimento se consolida como um dos mais expressivos e importantes compositores e intérpretes, no Brasil e em todo o mundo. Em 1990 torna-se o primeiro brasileiro a chegar ao topo da lista de World Music da Revista “Billboard”, com o álbum “Txai”, e nos dois anos seguintes é escolhido o “World Beat Artist of the Year” pela revista “DownBeat”, sendo eleito no primeiro ano pelo público, e no ano seguinte, pelos críticos. Com um Grammy em 1998, por seu disco “Nascimento”, Grammys Latinos e inúmeros outros prêmios importantes no Brasil e no exterior, mas, sobretudo por fazer parte da vida e dos sonhos de pessoas de todos os cantos, indo aonde o povo está, sua música se firma nas esquinas do mundo e se propaga, construindo uma das histórias mais sólidas e férteis da música contemporânea, com muitas páginas por serem escritas.


Maria Dolores
Autora do livro “Travessia – A vida de Milton Nascimento”.


DISCOGRAFIA

1964 - Barulho de Trem
1967 - Milton Nascimento
1969 - Courage
1969 - Milton Nascimento
1970 - Milton
1972 - Clube da Esquina
1973 - Milagre dos Peixes
1974 - Milagre dos Peixes
1975 - Minas
1975 - Native Dancer com Wayne Shorter
1976 - Geraes
1976 - Milton
1978 - Clube da Esquina 2
1979 - Journey to Dawn
1980 - Sentinela.
1981 - Caçador de Mim
1982 - Anima
1982 - Missa dos Quilombos
1983 - Milton ao Vivo
1985 - Corazón Americano
1985 - Encontros e Despedidas
1986 - A Barca dos Amantes
1987 - Milton e RPM
1987 - Yauaretê
1988 - Miltons
1990 - Txai
1991 - O Planeta Blue na Estrada do Sol
1993 - Angelus
1997 - Nascimento
1998 - Os Tambores de Minas
1999 - Crooner
1999 - Uma Travessia Musical
2000 - Gil e Milton
2002 - Maria Maria - Último Trem
2002 - Milton Nascimento - Travessia
2002 - Pietá
2009 - Milton Nascimento & Belmondo (Lançamento no Brasil)
2010 - E a gente sonhando

Wagner Tiso

Foto Divulgação


Wagner Tiso Veiga nasceu em Três Pontas, Minas Gerais, no dia doze de dezembro de 1945, é o modelo de músico contemporâneo. Compositor, maestro, arranjador, suas criações estão impregnadas de uma vigorosa expressão sonora brasileira.

A fusão de vários elementos musicais, que estruturam suas composições - do sentimentalismo cigano ao barroquismo mineiro - dão a este magistral músico um caráter de sua rareza musical.

Logo após a sua mudança para Belo Horizonte, Tiso forma o conjunto Wboys e aos poucos descobre o jazz e a boate Berimbau de Nivaldo Ornelas e Hélvius Vilela. Paticipa com Milton Nascimento, Marylton Borges e Marcelo do grupo vocal Evolu-Samba e do instrumental Berimbau Trio, que contava com Milton tocando contrabaixo.

Em 1965 desembarca no Rio de Janeiro, tocando no Dancing Brasil, Dancing Avenida e Sky Terrace. A sua parceria com Paulo Moura produz cinco álbuns e a participação no show de Maísa no Canecão. Em 1969 forma o combo progressivo "Som Imaginário", produzindo uma obra de três LPs.

Em 1974 Wagner é convidado a fazer os arranjos e as orquestrações de "Native dancer" e para acompanhar Airto Moreira e Flora Purim no Festival de Montreux.
Em 1978 grava o seu primeiro álbum, no mesmo ano em que se apresenta no I Festival Internacional de Jazz de São Paulo.

No ano seguinte grava seu segundo álbum, "Assim Seja" e em seguida grava "Trem Mineiro" e "Toca Brasil". Até a época atual, Wagner Tiso tem 26 discos gravados, compôs diversas trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão e tem em seu currículo vários prêmios nestas áreas. A música para ele é um ato de continua invenção. Invenção construída sempre com jogo de ritmos e ricas combinações musicais.

Wagner Tiso é um dos músicos brasileiros mais respeitados no exterior, participando com freqüência dos melhores festivais de jazz da Europa como Montreux, Berlim, Montmartre na Dinamarca e Nice. Suas apresentações fazem parte da agenda das principais salas de concertos na Grécia, Itália, França, Áustria e Alemanha.

Wagner Tiso é um músico completo. Pianista, tecladista, compositor, arranjador, maestro e diretor musical, porisso pertence ao restrito círculo de músicos completos. Ele ampliou seus horizontes em diferentes direções: música popular, sinfonias, ópera, trilhas para cinema, teatro e televisão, jazz, balé.

Wagner é um músico original, não imita ninguém. Sabe como poucos extrair das suas formações orquestrais uma unidade e coesão absolutas, como disciplina, espírito de grupo e excepcional musicalidade. Perfeccionista, realiza uma obra memorável, fazendo de seus arranjos verdadeiros trabalhos burilados com o requinte de esmerado artesão.
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Fonte Club Jazz
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Discografia - Wagner Tiso
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1970 - Som Imaginário
1971 – Nova Estrela
1972 - Matança do Porco
1978 - Wagner Tiso
1979 - Assim Seja
1980 - Trem Mineiro
1981 - Toca Brasil
1982 - Ao Vivo na Europa
1983 - Todas as Teclas
1985 - Coração de Estudante
1985 - Os Pássaros
1986 - Preto e Branco
1987 - Giselle
1987 - A Floresta do Amazonas
1988 - Manu Çaruê
1989 - Cine Brasil
1989 - Só Louco
1990 - Baobab
1992 - Profissão: Música
1993 - O Livro de Jó
1994 - Ao Vivo com Cello Ensemble
1997 - Brasil Musical
1997 - Debussy e Fauré
1997 - A Ostra e o Vento
1998 - Brazilian Scenes
1999 - Paulinho Pedra Azul e Wagner Tiso
2000 - Tom Jobim Villa-Lobos
2002 - Memorial
2003 - Cenas Brasileiras
2004 - Ao Vivo com Vitor Biglione
2004 - Orquestra Sinfônica de Minas Gerais
2006 - Wagner Tiso 60 anos
2007 - Da Sanfona a Sinfônica
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Toninho Horta

Foto de Cristiano Quintino


O influente compositor e violonista Toninho Horta desenvolveu um estilo pessoal de harmonização e teve grande participação em projetos de outros artistas e também gravou mais de dez álbuns solo, sendo vários no exterior.

Antônio Maurício Horta de Melo nasceu em Belo Horizonte no dia dois de dezembro de 1948. Neto, filho e irmão caçula de instrumentistas e compositores, aprendeu os primeiros acordes com a sua mãe e aos treze compôs sua primeira música, "Flor que cheirava saudade", gravada pelo tecladista Aécio Flávio.

Passando sua infância na cidade natal Belo Horizonte, Horta cedo se familiarizou com Nivaldo Ornelas, Milton Nascimento, Wagner Tiso e outros que ficaram conhecidos no Clube da Esquina. Sua primeira gravação foi em 1969 no álbum de Nivaldo Ornelas. Ele acompanhou Elis Regina e Tom Jobim no espetáculo Tom & Elis em Rio em 1970.

A partir de então não parou mais, participando de importantes festivais de música da época até ser convidado por Milton Nascimento a participar de um show no Teatro Opinião.
Em 1971, integrando "A Tribo", acompanha Elis Regina por toda uma temporada, participando ainda do mitológico álbum "Clube da Esquina", onde toca vários instrumentos. Logo em seguida segue para Paris, acompanhando Gal Costa no Festival Miden.

Em 1973, ele gravou o álbum "Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta" (EMI). Um ano depois integrou junto com Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, Luiz Alves e Robertinho Silva, o grupo "Som Imaginário". Em 1976, Toninho Horta e os Estados Unidos se descobrem: grava "Promises of the Sun" de Milton Nascimento e em seguida participa da gravação de um álbum de Flora Purim.

Lá inicia a gravação de seu primeiro álbum, "Terra dos Pássaros", que só ficou pronto em 1980. Classificado como o melhor guitarrista do mundo pela revista Britânica "Melody Maker" em 1977 e sétimo em 1978, Toninho solidificou sua carreira no exterior.

No Brasil, ele decidiu mostrar a sua obra, como compositor e intérprete, iniciando a sua carreira solo, em 1980, com o álbum, "Terra dos Pássaros".
Depois do sucesso do seu batismo de fogo, Toninho encontrou o seu caminho natural através da complexidade de conceitos e harmonias únicas, em sua composição que gradualmente causou o reconhecimento de grandes músicos brasileiros e músicos internacionais.

Em 1985, ele participou do Free Jazz Festival em São Paulo junto com Toots Thielemans e Bob McFerrin. Horta mudou para os EUA em 1992, continuando a trabalhar com outros artistas e a gravar seus álbuns solo.

Toninho foi convidado para participar de um cd em benefício das vítimas de Kobe (Japão), juntamente com Herbie Hancock, Keith Jarret, Pat Metheny e Ryuich Sakamoto. O nome do álbum é "A Big Hand for Hanshin", somente disponível no mercado japonês.

Toninho tem mostrado seu trabalho em países como Inglaterra, Rússia, Japão, Coréia, Finlândia, Eslováquia, Croácia, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria e nos USA.

"Foot on the Road", no Brasil, "Pé Na Estrada" foi lançado em novembro de 1994 pela Polygram e depois ele viajou pelas principais cidades do Brasil mostrando este trabalho. Neste trabalho Toninho contou com as performances de Dominguinhos (acordeão), Omar Hakim (bateria), Victor Bailey (baixo), Darrel Pegou (vocais), Akiko Yano (vocais), Onage Allan Gumbs (teclados) e Willian Gallison (gaita).

Em 1995 ao lançar três álbuns: "Durango Kid II" - USA, "Terra dos Pássaros" e "Pé Na Estrada" - Japão, Toninho Horta demonstrou o seu prestígio internacional, em razão de sua grande virtuosidade no instrumento e de suas concepções harmônicas nas composições.

Discografia - Toninho Horta

1973 - Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta
1979 - Terra dos Pássaros
1980 - Toninho Horta
1988 - Diamond Land
1989 - Concerto Planeta Terra – com N. Ayres, N. Ornellas, M. Montarroyos
1989 - Toninho Horta & Flávio Venturini: No Circo Voador
1989 - Moonstone
1992 - Once I Loved
1993 - Durango Kid
1993 - Infinite Love
1994 - Live In Moscow
1994 - Foot on the Road
1994 - Qualquer Canção – com Carlos Fernando
1995 - Durango Kid 2
1995 - Sem Você – com Joyce
1997 - From Belo to Seoul - com Jack Lee
1997 - Serenade
1998 - From Ton to Tom
1999 - Duets - com Nicola Stilo- Itália
2000 - Quadros Modernos
2001 - O Som Instrumental de Minas
2003 - Vira Vida - com Nicola Stilo
2004 - Com o Pé no Forró
2007 - Solo - Ao Vivo
2007 - Toninho Horta in Vienna
2007 - Cape Horn – com Arismar do Espírito Santo
2008 - Tonight – com Tom Lellis
2008 - To Jobim With Love (From Ton to Tom)
2010 - Harmonia e Vozes

Lô Borges

Foto Divulgação

Lô Borges (Salomão Borges Filho)
Nascido em Belo Horizonte (MG), em 10 de janeiro de 1952.

Dono de uma trajetória um tanto quanto incomum na MPB, Lô foi e é, até hoje, um dos grandes ícones do movimento chamado Clube da Esquina, que revelou nomes como Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini e os alçou ao primeiro time da MPB. Movimento este que, ao completar 37 anos, é revisitado e elevado à categoria de genial, sendo humildemente e mineiramente comparado à Bossa Nova, à Tropicália, ao Jazz americano e outros standards.

Filho número seis de dona Maricota e seu Salomão Borges, o pequeno Lô cresceu respirando música, principalmente por conta de seu irmão Marilton, e um tal de Bituca, que rapidamente passou de um mero vizinho do Edifício Levy, em Belo Horizonte, a "décimo - segundo" filho do casal Borges. Mal eles sabiam que ali, daqueles dias trancafiados no "quarto dos homens", nasceria uma parceria que mudaria o rumo da música brasileira. Entusiasmado pela música que ouvia ali, e pelas composições esboçadas por seu irmão Márcio e por Bituca, Lô começou a dedilhar seu violão, atraindo a atenção dos que frequentavam a casa dos Borges, principalmente daquele morador acidental, que dia após dia prestava mais atenção à arte do garoto.

Numa época em que a maioria dos garotos só pensavam em jogar bola, Lô e seu amigo Beto Guedes dividiam seu tempo com a música. Muitos custavam a acreditar que aquele garoto pudesse ser tão talentoso como estava demonstrando, menos o tal do Bituca, que a esta época, já estava sendo mais conhecido como Milton Nascimento e causando furor por onde passava, graças a apresentações consagradoras nos festivais da canção daquela época. O garoto Lô só não podia imaginar que Milton, o então gênio em ascensão, acreditaria na força da música daquele garoto e o convidaria para dividir um disco inteiro com ele.

Em 1972, a família Borges morava na Rua Divinópolis, esquina com Paraisópolis, no boêmio bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Dali, daquela esquina, nasceu uma música, um disco e um movimento. Clube da Esquina, o disco e a música foram lançados em 1972, quando Lô tinha apenas 18 anos e a responsabilidade de dividir um disco com Milton não pesava nem um pouco em seus ombros. Muito menos a responsabilidade de gravar "Um girassol da cor do seu cabelo" cantando ao piano, com uma orquestra regida por Eumir Deodato em apenas dois canais. Como se isso não bastasse, o disco ainda tem "O Trem Azul", "Saídas e bandeiras", "Cais", "Paisagem da janela", "Nada será como antes" e "Clube da Esquina nº2". O movimento a que o disco deu o nome nasceu a partir daí. Na época em que foi lançado, "Clube da Esquina" recebeu críticas positivas, mas a esmagadora maioria não soube reconhecer a genialidade ali registrada nos sulcos. Hoje, 37 anos depois, o disco é reverenciado como um dos dez, se não um dos cinco discos mais importantes da MPB.
Com um contrato nas mãos para gravar um segundo álbum, Lô Borges se viu numa encruzilhada, já que não tinha material para isso. Acreditem ou não, mas as primeiras músicas que ele compôs na vida foram aquelas registradas no "Clube". Daí pra frente, ele teve que se disciplinar para compor as músicas que fariam parte de seu segundo álbum. Acontece que essa disciplina não existia, simplesmente por que Lô jamais tivera que compor por obrigação.

A solução então, foi compor enquanto gravava. Desta maratona, surgiu Lô Borges, seu segundo trabalho. Ou simplesmente, o "disco do tênis" como é conhecido até hoje, graças à foto da capa, que mostra um par de tênis velhos do próprio cantor.
Seria difícil imaginar que aquele garoto de 19 anos faria um trabalho tão ou mais inovador que o anterior, mas a verdade é que isso aconteceu. O "disco do tênis" é considerado um clássico experimental por seu próprio autor e um trabalho à frente de seu tempo, também um pouco ignorado na época. Canções como "Canção postal", "O Caçador" e "Faça seu jogo" estão entre os destaques de um trabalho que acabou por deixar Lô Borges completamente esgotado e sem vontade de continuar fazendo música profissionalmente.

Lô passaria os próximos sete anos sem registrar absolutamente nada do que compunha. Este hiato só seria quebrado em 1979 com o lançamento de A Via Láctea. De novo um clássico. Basta citarmos as músicas que compunham este álbum. Nove entre dez canções de qualquer coletânea de Lô Borges são deste disco. "Clube da Esquina 2" - com uma letra criada por Márcio Borges, em cima do instrumental registrado no disco Clube da Esquina - , "A Via Láctea", "Equatorial", "Vento de Maio", "Tudo que você podia ser" e "Nau sem rumo".

O ano de 1980 seria especial para Lô e sua família. Os Borges é um projeto especial que reuniu toda a família, com apenas dois convidados : Milton (que era "da família") e a pimentinha Elis Regina. Um belo disco que mostrou ao mundo o clima que reinava na casa dos Borges, traduzido até em imagens, através da capa, que mostrava o quarto dos meninos, com violões pelo chão e pôsteres pela parede.

Nuvem Cigana é seu trabalho de 1981, em que Lô regravaria a faixa-título, já registrada no Clube da Esquina. Mais uma vez, as composições teriam letras de Márcio e Ronaldo Bastos, com a inclusão de Murilo Antunes no "Clube". Músicas como "A Força do vento" de Rogério Freitas e "Viver, viver" - esta com participação do indefectível Bituca - são uma amostra da capacidade de composição de Lô.

Um hiato de três anos separa "Nuvem" do próximo trabalho de Lô, Sonho Real - que em 2001 ganhou uma reedição luxuosa em CD. É o disco em que seu irmão Telo mais contribui, inclusive com a bela faixa que abre o álbum, "Tempestade". Mais uma vez, o trio de letristas, Márcio Borges, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos se faz presente, mantendo assim a chama do Clube acesa.

Em 1987, Lô faz seu primeiro e até então, único registro oficial ao vivo de sua carreira. Lô Ao Vivo (CD Solo) foi gravado no Rio de Janeiro em uma proposta "violão-piano-voz", acompanhado apenas por seu irmão Marilton. As participações especiais de Milton Nascimento (em "Um Sonho na correnteza" ) e de Paulo Ricardo - então no auge de sua carreira com o RPM - em "Para Lennon e McCartney" ajudam a abrilhantar este álbum que jamais foi lançado no país.

Quase dez anos separam este registro ao vivo de Meu Filme, o disco que o próprio Lô considera - ao lado do "disco do tênis" - como o mais emblemático de sua carreira. O disco foi gravado quase todo com voz, violão e percussão a cargo do mestre Marcos Suzano e do aclamado grupo Uakti. O velho amigo Bituca toca sanfona em "Alô", parceria dos dois. Um outro parceiro bastante famoso dá as caras aqui. Caetano Veloso assina a letra de "Sem não" enquanto Chico Amaral, principal letrista do Skank, assina a faixa-título com Lô. É neste disco que Lô Borges inaugura sua bem sucedida parceria com a banda mineira - principalmente com Samuel Rosa - de quem regravaria "Te ver".

No trabalho Feira Moderna, ele regrava alguns de seus maiores sucessos, além de gravar pela primeira vez a faixa-título, uma parceria sua com Beto Guedes e Fernando Brant. As participações especiais deste disco vão de Edgard Scandurra - um velho fã da música de Lô - a Samuel Rosa. Um disco para antigos fãs relembrarem e novos terem seu primeiro contato com a música de um gênio sempre precoce chamado carinhosamente de Lô.

Como compositor, teve suas canções gravadas por grandes intérpretes da MPB como Milton Nascimento, Simone, Nana Caymmi, Gal Costa, Elba Ramalho, Elis Regina, Ney Matogrosso. A canção "Trem Azul" foi gravada por Tom Jobim em 1990 e regravada em 1994 numa versão em inglês feita pelo próprio Tom em seu disco Antônio Carlos Brasileiro Jobim.

Scalla FM

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Discografia - Lô Borges
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1972 - Clube da Esquina
1972 - Lô Borges - Tênis
1979 - A Via Láctea
1980 - Os Borges
1981 - Nuvem Cigana
1984 - Sonho Real
1987 - Solo - Ao Vivo
1996 - Meu Filme
2001 - Feira Moderna
2003 - Um Dia e Meio
2006 - BHanda
2008 - Intimidade
2009 - Harmonia

Beto Guedes


Foto Fernando Fiuza
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Alberto de Castro Guedes, nasceu em 13/08/1951, em Montes Claros-MG.
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A música e os aviões sempre tiveram muito em comum na vida de Beto Guedes. Quando pegou num instrumento pela primeira vez - aos oito anos, em Montes Claros (MG), sua cidade natal - ele não seria capaz de adivinhar que um dia voaria tão alto na carreira de músico. E nem que conseguiria pisar num avião de verdade - seu medo de voar contrastava com a obsessão por aeromodelismo. O tempo livre de Beto sempre foi dividido entre os aviõezinhos de brinquedo e a paixão pelos instrumentos herdada do pai, Godofredo Guedes, músico e compositor, responsável pela maioria dos bailes e serestas de Montes Claros.

O gosto pela música estava diretamente ligado aos Beatles. Em 1964, aos 12 anos, quando o quarteto de Liverpool já era febre no mundo inteiro, Beto, morando em Belo Horizonte, juntou-se aos vizinhos para formar o grupo, The Bevers (com repertório dedicado aos Beatles, obviamente). Os vizinhos, no caso, eram os irmãos Márcio, Yé e Lô Borges. A Beatlemania durou toda a adolescência e ainda incluiu um outro grupo, Brucutus, que animava festinhas durante as férias em Montes Claros. No final da década, mais amadurecidos, Beto e Lô começaram a compor e participar de festivais. Em 1969, quando foram ao Rio participar do Festival Internacional da Canção com a música "Feira Moderna", bateram na porta do conterrâneo Milton Nascimento. A acolhida de Milton não poderia ter sido mais proveitosa. A amizade e a admiração profissional mútua fizeram com que ele convidasse Beto Guedes para participar do antológico LP "Clube da Esquina", de 1971. Tocando baixo, guitarra, percussão e fazendo vocais, Beto começava a ganhar projeção junto com uma turma talentosa, que incluía nomes como Wagner Tiso, Ronaldo Bastos e Toninho Horta.

A safra de novos músicos mineiros era completada por Flávio Venturini, Sirlan, Vermelho, Tavinho Moura, entre outros, que Beto foi encontrar quando decidiu voltar a BH. As gravadoras passaram a abrir os olhos e em 1973 a Odeon resolveu bancar o LP "Beto Guedes/Danilo Caymmi/Novelli/Toninho Horta". Ao Beto, coube um quarto do disco. Não era muito, mas para ele, era o suficiente. Perfeccionista e naquela altura ainda muito inseguro, não conseguia acreditar no valor de suas músicas, embora a gravadora já lhe acenasse com ofertas para gravar um disco solo.

Quatro anos foi o tempo necessário para que criasse asas próprias. Em 1977, ele finalmente levantou vôo, a bordo do LP "A Página do Relâmpago Elétrico". O título foi sugestão do parceiro Ronaldo Bastos, depois que este viu no álbum de um colecionador de fotos de aviões da 2ª guerra, uma imagem do avião "Relâmpago Elétrico". Tá na cara que Beto, fanático por aviõezinhos de brinquedo, adorou a sugestão. O disco, que tinha a colaboração de vários amigos mineiros, chamou a atenção por revelar seus dotes como cantor, já que até então, ele era conhecido apenas pela versatilidade de multiinstrumentista. O tímido sucesso das músicas "Lumiar" e "Maria Solidária" foram suficientes para que o disco chegasse as 21 mil cópias vendidas, três vezes mais do que calculava a gravadora.

Mal sabiam eles, que "Lumiar" viraria um dos hinos da juventude cabeluda paz-e-amor e pró-natureza. E que Beto seria um dos ídolos dessa geração, principalmente após o lançamento de seu segundo álbum, "Amor de Índio". A faixa-título, dele e de Ronaldo Bastos, integrava o espírito de todo o disco. Versos como "A abelha fazendo o mel/Vale o tempo em que não voou" ou "Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo", segundo Beto, expressavam o lado primitivo e puro que ainda havia em cada uma das pessoas, como um canto de louvor à vida.
Quando lançou seu terceiro disco, "Sol de Primavera", em 1980, já tinha uma legião de fãs no eixo Rio-São Paulo. Mas nunca abandonou a mineirice que se tornara sua marca registrada. Botava o pé na estrada - de carro, porque não perdia o medo de voar - , mas continuava morando em Belo Horizonte, onde tinha a tranqüilidade para se dedicar aos brinquedinhos voadores e às novas composições. Era na janela, esperando o anoitecer que as idéias surgiam. E amadureciam tanto, que seus álbuns demoravam no mínimo dois anos para sair. O quinto deles, "Viagem das Mãos", de 1984, foi um marco em sua carreira. Àquela altura, Beto Guedes já era um artista de primeira linha, com vendagens oscilando entre 50 e 60 mil cópias e uma marca sonora registrada. Mas este álbum trazia a canção que, junto com "Amor de Índio", seria o maior sucesso de sua carreira: "Paisagem da Janela", de Lô Borges e Fernando Brant. Ao mesmo tempo, representava o estouro nacional do compositor, que naquele momento superava o medo de voar e, pasmem, já cogitava pilotar um ultraleve construído por ele mesmo!

A viagem de Beto alcançara as alturas, e o ápice acabou sendo "Alma de Borracha", que, lançado em 1986, finalmente lhe rendeu um Disco de Ouro e o reconhecimento no exterior. O título do disco (tradução de "Rubber Soul") homenageava os Beatles, enquanto o repertório trazia uma grata surpresa: a faixa "Objetos Luminosos", primeira parceria com seu mentor e padrinho musical Milton Nascimento. O Rio de Janeiro - cidade onde fez shows antológicos e sempre teve recepção calorosa do público - foi o local escolhido para a gravação de um disco ao vivo, no final de 1987.


Ao todo, foram cinco anos longe dos estúdios. Em 1991, Beto Guedes voltou a gravar. Com a meticulosidade de sempre, ele cuidou de cada detalhe de "Andaluz", seu oitavo disco e último contrato com a EMI-Odeon. Um disco em que o uso de sintetizadores dava um chega pra lá em alguns instrumentos barrocos tão utilizados pelo compositor em trabalhos anteriores. No ano seguinte, era de se esperar que Beto caísse na estrada mais uma vez. Mas ele preferiu trocar o violão pelo macacão de mecânico e passou a dedicar cada vez mais à sua paixão por aviões, só que construindo um monomotor de verdade. Foram mais sete anos restritos a shows esporádicos e muita reflexão.
Até que, lá no alto, sobrevoando os céus de Minas, ele sentiu a sensação de quem venceu o medo de um desafio e se tornou dono de seu próprio destino. Olhou para o futuro e viu, no horizonte infinito, música. Os versos já estão escritos. Mineiramente, Beto Guedes está de volta.



Site do Beto Guedes - Marcelo Janot

Discografia - Beto Guedes
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1971 - Clube da Esquina nº1
1973 - Beto Guedes / Novelli / Danilo Caymmi / Toninho Horta
1975 - Minas : Milton Nascimento – participação
1975 - Caso Você Queira Saber - "Norwegian Wood"
1977 - A Página do Relâmpago Elétrico
1978 - Amor de Índio
1979 - Clube da Esquina nº2
1980 - Sol de Primavera
1981 - Contos da Lua Vaga
1983 - Coletânea - LP Lumiar
1984 - Viagem das Mãos
1986 - Alma de Borracha

1987 - Beto Guedes ao Vivo
1991 - Andaluz
1998 - Dias de Paz
2004 - Em Algum Lugar
2005 - Beto Guedes - 50 anos ao vivo
2010 - Outros Clássicos


14 Bis


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A influência dos Beatles sobre gerações de músicos em todo o mundo, principalmente sobre aqueles que foram seus contemporâneos, é indiscutível. Muitos foram os músicos que perceberam a riqueza deicados, harmonias complexas e um vocal cuidadoso - dado às suas canções pelo grupo inglês.
Não foi diferente com os cinco rapazes do 14 BIS, que entre outras influências - brasileiríssimas por sinal - tiveram nos Beatles o fator decisivo para sua formação. Mas as semelhanças terminam aí. Longe de recorrer ao recurso fácil e perigoso da simples clonagem, Flávio Venturini, Vermelho, Hely Rodrigues, Cláudio Venturini e Sérgio Magrão, partiram dos Beatles para compreender a música brasileira e buscar um som próprio, moderno, lírico e de qualidade. Conseguiram tanto que estão na estrada há quase vinte anos. Sobreviveram à saída do líder da banda, Flávio Venturini, em 87, sem perder o rumo. Uma bela Volta por cima. Diferentemente de inúmeros grupos de rock esquecidos na poeira da década de 80, o 14 BIS provou que veio para ficar.

A CÉLULA INICIALQuando Cláudio tinha nove anos e Flávio dezoito, em 1968, o tenente Castro Moreira, ou melhor, Vermelho - cujo cabelo cor de fogo não deixava dúvida sobre a razão de seu apelido- entra no cenário musical dos Venturini. O futuro tecladista, arranjador e compositor do 14 BIS conheceu Flávio , em fins de 68, quando ambos serviam juntos no CPOR, com a música e o piano como elementos de ligação de um companheirismo que atravessaria décadas. O embrião do 14 BIS já estava em formação.
Dona Dalila, mãe de Flávio e Cláudio, que sempre se dedicou ao ramo da hotelaria, além de ser grande incentivadora do talento musical da prole, alugou um quarto para o novo amigo de seu filho. Cláudio era ainda muito menino para ser aceito na roda dos rapazes, que se divertiam compondo para as namoradas - a primeira música que fizeram juntos se chamava Eliane-, cantando a duas vozes canções de Simon & Garfunkel, além dos Beatles, é claro. Em geral, compunham a música juntos e Vermelho escrevia a letra. A partir das suas participações em festivais, ainda em BH, conheceram outros letristas com quem também compuseram, como MuriloAntunes e Márcio Borges.


A primeira participação dos dois em festival aconteceu em 69, no Festival Estudantil da Canção de Belo-Horizonte, que abriu as portas para a convivência com aqueles jovens músicos - Beto Guedes, Lô Borges, Tavinho Moura, Toninho Horta, Túlio Mourão - que mais tarde vieram a fazer parte do Clube da Esquina, com certeza o mais importante movimento musical da história recente de Minas, com enorme repercussão na MPB. Mas foi no Festival Universitário, quando "Espaço Branco" (Flávio e Vermelho) tirou o segundo ligar defendida pelo grupo Terço - em sua primeira formação com Sérgio Hinds, Vinícius Cantuária e Jorge Amiden - que sentiram que o sonho poderia tornar-se realidade.


AS OPORTUNIDADES
A partir de 1970, Vermelho e Flávio começaram a se ausentar cada vez mais de Belo-Horizonte, rumo ao Rio e a São Paulo onde o mercado de trabalho ofereciam maiores oportunidades. Participaram juntos do primeiro disco de Beto Guedes, pela EMI Odeon.Logo depois, Flávio Venturini é convidado para cantar com a dupla Sá & Guarabira em São Paulo. Muda-se de armas e bagagens.Lá reencontra o grupo Terço e é convidado para entrar e fazer parte dele. Com Flávio, o Terço lança dois discos - Criaturas da Noite e Casa Encantada- ,ambos pela gravadora Copacabana. Já no primeiro disco o mineiro participava com várias composições que foram sucesso, consolidando a posição da banda como uma das mais importantes do país. Mas o 14 BIS ainda demorou a chegar. Vermelho costumava frequentar os festivais de inverno que aconteciam em diversas cidades do interior de Minas e acolhiam estudantes e professores de música de todo o Brasil. Estava sempre em busca de novidades. Num desses festivais, conheceu o Bendegó, foi convidado a integrar o grupo, e passou a viajar pelo Brasil.
Nesse meio tempo, havia uma garagem que dava muito o que falar em Belo Horizonte. Dona Dalila, mãe de Flávio e Cláudio, montou um pensionato feminino numa casa na Av. Pasteur, em cuja garagem aconteciam os ensaios da turma. A garagem, além de estúdio, servia de quarto Cláudio que já era um adolescente de 14 anos e não podia morar na casa principal para não desmoralizar o pensionato. Apesar dos amigos músicos irem à garagem pela fissura de tocar, as meninas eram um atrativo a mais, uma platéia para ninguém botar defeito. Afinal eram 42 moças. Vermelho, Beto, Hely, Paulinho Carvalho, Zé Eduardo, Lô Borges, praticamente todos os músicos de BH passaram pela garagem. Foi quando Vermelho convidou o baterista Hely Rodrigues para tocar no Bendegó. Acompanharam Caetano Veloso em turnê, chegaram a gravar um disco do grupo e só saíram em 72.
Enquanto Hely e Vermelho estavam no Bendegó, Flávio fazia parte do Terço. A família encarava com certo ceticismo o interesse de Cláudio pela música. Imaginava tratar-se de um deslumbramento adolescente.


PREPARAR PARA A DECOLAGEM
Em 77, Flávio deixou o Terço. Logo em seguida, gravou A Página do Relâmpago Elétrico (EMI Odeon), primeiro disco de Beto Guedes. A Página do Relâmpago Elétrico foi lançado no Teatro Ipanema, em janeiro de 78, em pleno verão carioca. Cláudio, que havia terminado o curso técnico em eletrônica e já estava no ITA cursando engenharia eletrônica, cada vez mais apaixonado por música, encontrou um caminho do meio para seus talentos: foi ser técnico som dos shows de Beto. Após o lançamento no Rio, seguiram em turnê pelo Brasil. Impossibilitado de continuar freqüentando as aulas, Cláudio largou a faculdade. Beto, vermelho, Hely Rodrigues, Zé Eduardo e Flávio Venturini formavam a banda. Praticamente todos os futuros integrantes do 14 BIS estavam ali. Ficava faltando apenas Sérgio Magrão, o contrabaixista do grupo.
Flávio Venturini e Magrão se conheceram em São Paulo no Terço. Foram convidados por Sérgio Hinds para fazer parte da terceira formação dogrupo. Entre 77 e 79, já desligado do Terço, o baixista teve sua própria agência de propaganda, a Trâmite Publicidade , em sociedade como publicitário Daniel Haar. A empresa ficava numa casa em Perdizes, um bairro em São Paulo. O 14 BIS nasceu ali no pequeno estúdio que mantinha para gravar os jingles das campanhas. Curioso o fato da maioria não estar tocando com ninguém. Desde quando Beto Guedes partiu para a carreira solo, Vermelho e Cláudio estavam em São Paulo trabalhando em aluguel de equipamentos de som para shows, que eles próprios operavam. Flávio e Vermelho tinham participado no ano anterior das gravações do Clube da Esquina II, de Milton nascimento, incluindo alguns arranjos. Cláudio, no início de 79, acompanhou Lô Borges - com quem aliás começou - no seu disco A Via Láctea, além de tocar nos shows do amigo. Mas todos queriam dar um outro rumo às suas carreiras.
Flávio, Vermelho, Cláudio e Hely estavam planejando montar uma banda ainda sem nome. Precisavam de um contrabaixista e convidaram Magrão, considerado um dos melhores músicos da década de 70. "Quando escutei "perdidos em Abbey Road" e "Pedra Menina" fiquei alucinado. Era tudo oque eu queria, com vocal, harmonia e muita influência dos Beatles" - conta o única carioca do grupo.
A gravadora EMI-Odeon vinha sondando Flávio Venturini para gravar um disco solo, este propôs o trabalho da banda, ainda sem nome.Depois de muito brainstorm , surgiu o nome 14 BIS que agradou a todos e batizou também o disco. Convidaram Milton Nascimento para produtor.
A estréia em disco, em 79, não podia ter melhor padrinho.

CONSTRUIDO O SUCESSO
O 14 BIS surge num momento em que o mercado carecia de bandas com um som jovem. Além dele, só havia A Cor do Som e o Roupa Nova. As canções melódicas, originais, com vocais apuradíssimos e a interessante mistura de rock progressivo e a música regional repercutiram não só entre o público mas também na crítica, que recebeu favoravelmente o trabalho. Os cinco foram retratados em estilo barroco na capa do primeiro disco pelo pintor Pedro Alzaga, que recebeu elogios de Caetano Veloso.
Em 80, Vermelho, Magro e Flávio foram morar no mesmo prédio em Jardim Botânico, bairro da zona-sul carioca. Hely e Cláudio preferiram fazer ponte aérea Rio-BH, mas transformaram o Hotel Astória em segundo lar. Venderam 70 mil cópias do disco, o que para a época era consideradauma performance excelente. " Canção da América" e " Natural" estouraram nas rádios. O grupo vivia nos mais importantes programas de televisão daépoca: Globo de Ouro, Chacrinha, Bolinha, Angélica, além de muitos Fantásticos. Bancaram os atores na novela Coração Alado, da TV Globo, na qual o personagem de Tarcísio Filho tinha um conjunto.
Uma das ambições do 14 BIS era se manter na vanguarda tecnológica dos grupos de rock do país. A preocupação com a qualidade do som sempre foi uma constante. Já em 82, foram aos EUA. Voltaram cem mil dólares mais pobres e com uma tonelada e meia de equipamentos de última geração.
Antes, em 80, já haviam lançado o segundo LP, o 14 BIS II, que trazia um clássico da década, "Caçador de mim", de Sá e Sérgio Magrão. Mais tarde Simone e Milton Nascimento regravaram "Caçador de mim". Os sucessos se multiplicavam. Cada disco tinha parada obrigatória, às vezes com duas ou mais músicas, na lista das mais executadas das rádios de todo o Brasil. Espelho das Águas (EMI/81) com " A Qualquer Tempo", " Nos Bailes da Vida"e " Mesmo de Brincadeira"; Além, Paraíso (EMI/82) com "Uma Velha Canção Rock'n Roll" e "Linda Juventude"; Idade da Luz (EMI/83) - com parte da produção feita em Los Angeles - com "Todo Azul do Mar" e "Nave de Prata".
Com A Nave Vai (EMI/85), a preocupação em utilizar os melhores recursos tecnológicos à disposição no mercado redobrou. O esmero nos arranjos também. Sentiram necessidade de trocar experiências com outros músicos. Convidaram o saxofonista Leo Gandelman para participar dos arranjos da faixa "Só se for", sucesso do disco Sete (EMI/87) contou com a participação de Renato Russo (Mais uma Vez) e Kiko Zambianchi (Templo).
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PONTO DE MUTAÇÃO
Ainda em 87, um acontecimento veio modificar o rumo do 14 BIS. Desde 82, Flávio Venturini vinha se equilibrando na corda banda para conciliar duas agendas. Tentou ao máximo desenvolver sua carreira solo sem prejuízo da banda. Até ali tinha conseguido, mas as custas de um desgaste enorme. Com a aprovação e o incentivo da banda, fizeram um último disco juntos (14 BIS ao Vivo/EMI/87), gravado ao vivo no Palácio das Artes, em Belo-Horizonte, em pleno Natal, para fazer sua despedida em grande estilo. Vieram ônibus de fã-clubes do Brasil inteiro. A saída de Flávio não alterou a agenda de mais de cem shows anuais da banda. O novo disco, Quatro por Quatro (EMI/93), demorou um pouco a chegar. Quiseram dar-se esse tempo para maturar novas canções e buscar uma sonoridade que melhor expressasse a transição por que estavam passando.
Foram convidados pelo produtor Mariozinho Rocha para entrar na trilha da novela Pedra sobre Pedra, da TV Globo, com "Dona de mim" (Moacyr Luz e Aldir Blanc). Qualquer dúvida a respeito da capacidade de sobrevivência do grupo sem Flávio Venturini foi dissipada com a enorme repercussão de "Dona de Mim". Não precisavam provar mais nada a ninguém!
Cláudio, Hely, Vermelho e Magrão ainda tiveram que passar por uma nova transição. Saíram da EMI após quase 15 anos de trabalho, o mesmo tempo que tinham de carreira. Não se abateram. Logo arregaçaram as mangas e em 95 lançaram o CD Siga o Sol, já pela gravadora Velas. Tiveram carta branca e gravaram em Nova York, onde permaneceram um mês, com o produtor Mairton Bahia, o mesmo de João Gilberto e Legião Urbana.



NOVOS RUMOS
Uma nova experiência os aguardava entre 97 e 98. Foram contratados juntamente com o grupo vocal Boca Livre para fazer shows no interior de São Paulo.O encontro foi um êxito junto ao público, um verdadeiro achado. Desde então, os dois grupos separaram parte da agenda para um trabalho em conjunto. Além da experiência musical muito rica e dos muitos pontos em comum, os rapazes se divertem demais com o encontro e o público só tem a ganhar.
Em 1999 o 14 BIS se envolve num novo projeto ainda mais instigante. Para quem se habituou a ouvi-los envoltos em sofisticadas parafernálias tecnológicas, como é de se esperar, aliás, em qualquer banda de rock, vai ser uma surpresa. Foi lançado o acústico do 14 BIS com participações especiais de Flávio Venturini, Beto Guedes, Lô Borges, Milton Nascimento e do Boca Livre. Em 99, o público já conta com o novo CD, que vem com dez regravações e quatro inéditas.
Em 2001 os shows realizados com o Boca Livre transformou-se em um cd gravado ao vivo no ATL Hall, Rio de Janeiro.
Em 2004 lança um cd de músicas inéditas, Outros Planos.
Os rapazes do 14 BIS encararam cada trabalho como uma oportunidade de renovação. Qual o segredo? Tudo tem sabor de primeira vez. Dos beatles, ídolos de sua juventude e influência maior, fazem questão de manter uma diferença: para eles o começo foi um sonho, um sonho real que não tem mais fim.


Divulgação - Texto Stella T. Caymmi
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Discografia - 14 BIS
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1979 - 14 Bis
1989 - 14 Bis II
1981 - Espelhos das Águas
1982 - Além Paraíso
1983 - A Idade da Luz
1985 - A Nave Vai
1987 - Ao Vivo
1987 - Sete
1993 - Quatro por Quatro
1996 - Siga o Sol
1999 - Bis Acústico
2000 - Boca Livre e 14 Bis Ao Vivo
2004 - Outros Planos
2007 - 14 Bis Ao Vivo
2008 - 14 Bis Sempre

Flávio Venturini


Mineiro de Belo Horizonte, Flávio Venturini teve o acordeon como seu primeiro instrumento até ganhar um piano de presente de seu pai. Participou de vários festivais de inverno nos anos 60 e 70, tocou em bailes e integrou o grupo dos novos compositores mineiros. Fio da Navalha era o nome do show que reunia Venturini, Lô Borges, Beto Guedes, Tavinho Moura, Toninho Horta, Vermelho e Zé Eduardo que mais tarde estariam juntos no Clube da Esquina.
Em 1974, gravou com Sá & Guarabyra e entrou para O Terço (grupo carioca, na época radicado em São Paulo), com o qual se destacou como compositor e gravou dois discos, Criaturas da Noite e Casa Encantada. Em 1977 deixa o grupo, grava com Beto Guedes o LP A Página do Relâmpago Elétrico e tem sua música "1974” coreografada para o Royal Balet, do Canadá. Já fez turnê pela Europa, Canadá e Estados Unidos; tocou no Free Jazz Festival e no Heineken Concerts; participou de Clube da Esquina II e Missa dos Quilombos, históricos álbuns de Milton Nascimento; gravou um disco com Toninho Horta e compôs músicas para trilhas de filmes e novelas da Rede Globo e SBT. Fundou a banda 14 Bis, em 1979, com a qual gravou oito discos e permaneceu até 1988. Época em que começava também sua carreira solo com os discos Nascente (1982) e O Andarilho (1985). Depois vieram, Cidade Veloz (1990), Flávio Venturini ao Vivo (1992), Noites Com Sol (1994, Disco de Ouro), Beija-flor (1996) e Trem Azul (1998). No ano seguinte, aos 50 anos, realizou um show no Metropolitan/RJ com participação de Zé Renato, 14Bis, Paulo Ricardo, Moska, Beto Guedes, Lô Borges e outros, o que virou especial do Multishow e também saiu em CD e DVD (Som Livre).
Em 2003, fundou a gravadora independente Trilhos.Arte e por ela lançou um CD de músicas inéditas (Porque Não Tínhamos Bicicleta), uma coletânea (Luz Viva) e, em 2006, outro inédito (Canção Sem Fim). O último disco traz músicas próprias, parcerias com Murilo Antunes, Ronaldo Bastos e Kimurta, composições de outros autores - “Neblina” (Torcuato Mariano e Aloysio Reis), “Melhores Dias de Um Verão” (Julio Borges e Cláudio Rabello) e “Quanto Mais Teus Olhos Calam” (Thomas Roth) - e regravações de “Fênix” (parceria com Jorge Vercilo) e a faixa-título, “Canção Sem Fim” (com Márcio Borges).
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Divulgação site Flávio Venturini


Discografia - Flávio Venturini
Com o Terço : 1974 - Criaturas da Noite
1975 - Casa Encantada
2007 - O Terço

Com o 14 Bis : 1979 - 14 Bis
1980 - 14 Bis II
1981 - Espelhos das Águas
1982 - Além Paraíso
1983 - A Idade da Luz
1985 - A Nave Vai
1987 - Sete
1987 - Ao Vivo

Carreira Solo :
1982 - Nascente
1984 - O Andarilho
1990 - Cidade Veloz
1991 - Flávio Venturini ao Vivo
1994 - Noites com Sol
1996 - Beija-Flor
1997 - Flávio Venturini e Toninho Horta no Circo Voador
1998 - Trem Azul
1999 - Linda Juventude ao Vivo
2003 - Porque Não Tínhamos Bicicleta
2005 - Luz Viva
2005 - Aquela Estrela
2006 – Canção sem Fim
2009 - Não se Apague esta Noite